segunda-feira, janeiro 30, 2012

100 fatores - empresas que se apresentam como “grandes famílias” e a profissionalização.

È comum ouvirmos de empresas que acreditam melhor motivar seus trabalhadores o uso do discurso de que “ a equipe é uma grande família”. Acontece que, como psicóloga sei que a família é o lugar mais desafiador da vida de qualquer pessoa e não se pode querer empresas com características de família como indicadores de sucesso. O que precisamos é de empresas altamente profissionais com relações amigáveis e respeitosas. Elenco abaixo 100 fatores negativos do fenômeno familiar que atrapalham o sucesso empresarial:
1. Liderança coercitiva é a mais comum, democracia e participação não são características
2. Motivação com base em reforço negativo. Quando se erra pune-se, acertos são obrigação.
3. Preferencialismo – sempre existe o queridinho
4. Paternalismo – defesa do escolhido em qualquer situação.
5. Patrimonialismo – poder do chefe/patrão
6. Segredos, conchavos, alianças, jogos de poder com base nos “grupos de dentro”
7. Comunicação baseada na manipulação da informação com objetivo de manutenção de grupos aliados – comunicação informal é mais forte.
8. Seleção contaminada por identidade com interesses da liderança
9. Mais janelas que porta de entrada – programas de pessoal ineficientes.
10. Defesa de interesses pessoais determinando a escolha dos membros da equipe – não se escolhe para a empresa e sim para o gerente ou diretor - aliados
11. Sentimento de ameaça pela denuncia das falhas e erros – quem aponta sofre.
12. Erros e falhas não são trabalhados e sim maquiados ou disfarçados
13. Não existe política ou programas de reconhecimento por desempenho e sim por dedicação ao líder coercitivo e não á empresa
14. A prioridade são os interesses dos grupos menores em detrimento dos objetivos maiores (missão, visão e valores não reconhecidos)
15. A corrupção é veiculo para manutenção dos poderes – o chefe sempre pode “dar um jeito” e usa esse poder para manter as alianças emocionais.
16. Nepotismo é estratégia – parentes viram chefes.
17. Filho bom é o que não discute as regras e nem tenta mudar o “status quo”
18. Inovações são percebidas como ameaçadoras – não se meche em time que está “ganhando”
19. Parentesco é Currículo
20. Problemas são mantidos debaixo do tapete ou dentro de armários
21. Aquele que fala verdades e aponta erros é marginalizado, boicotado, desacreditado
22. A moral é flexível, pois, atende a emoção do momento
23. A ética é maleável e atende aos conchavos e alianças
24. Sem foco em resultado
25. Sem controle de qualidade
26. Sem profissionalismo – direção nem sempre está na mão do mais preparado para o cargo.
27. Sem qualificação – conhecimentos dos chefes não são adequados ao serviço ou produto da empresa.
28. Preconceito, discriminação, fofocas são reforçados.
29. Execução de tarefas mantém métodos antiquados para manter o lugar dos antigos
30. Compreensão dos processos altamente emocional e defensivo
31. Mais responsiva que proativa
32. Hierarquia mantida á força e mediante coerções – “se não está com o chefe está contra ele”.
33. Obrigatoriedade de cair nas graças do chefe ao invés de mostrar-se eficiente
34. Poder da força em detrimento do poder do conhecimento
35. Valorização dos que aceitam ou não questionam os conchavos – “os filhinhos de papais e nenês da mamãe”
36. Genética em detrimento da Memética
37. Pessoas identificam falhas, mas, não denunciam por medo de represálias ou defesa dos queridos
38. Comunicação repleta de códigos e mensagens subliminares – linguagem condensada.
39. Suicídio em alto grau tanto dos membros quanto das empresas – no sentido de promover a “morte” dos projetos da empresa e também fisicamente.
40. Não pensar e sim obedecer. Não se discute as ordens dos chefes.
41. Potencial dos membros só é bom quando serve aos interesses da hierarquia e manutenção dos poderes
42. Roubo de idéias e desrespeito a autorias
43. Avaliação serve como instrumento de perseguição e justifica ações de interesses escusos
44. Panelinhas – os “amigos do rei” recebem benécies.
45. Criatividade é ameaça – ambiente não permite.
46. Amores e não coleguismo – passionalidade e pessoalidades.
47. Solidariedade com os de fora em detrimento aos de dentro
Responsabilidade social – imagem externa sem a preocupação com a qualidade de vida do trabalhador interno.
48. Valorização dos erros como instrumentos de controle e manutenção de poder – “tudo bem, você errou, vamos dar um jeito nisso”
49. Dificuldade em escutar e falar dos erros
50. Projetos se perdem nas gavetas
51. A família do vizinho é sempre melhor
52. Mudar ameaça e atrapalha
53. Clima é disfarçado pelas festas e mantido pela intimidação
54. Busca constante por “culpados”
55. Fracasso e erro se confundem
56. Ausência de conceituação e de registros para analises posteriores
57. Ausência de aprendizagem adaptada a novos ambientes e realidades
58. Transferências de práticas em contextos diferentes
59. Bastidores mais fortes que os palcos
60. Pouca porosidade – não se permite entrada de novas idéias e práticas.
61. Não sistêmica – sem visão global.
62. Vícios – manias, compulsões de todo tipo.
63. Historias que se repetem identificadas pela genética e não pela repetição de erros
64. Estruturas que se adéquam ás necessidades individuais dos mais fortes e não á viabilidade dos projetos
65. Quem é o proscrito? Quem é o errado? SEMPRE AQUELE que coloca em risco a hierarquia e denuncia as relações equivocadas
66. Conceito de qualidade e excelência inexistentes. Não há reflexão e dialogo para essa construção.
67. Desvio de recursos para status e poderes em detrimento da manutenção da estrutura
68. Premiações oferecidas de acordo com humores dos chefes
69. Promoções vinculadas á benefícios pessoais – manutenção das forças.
70. Demissões provocadas por humores
71. Valores e crenças imutáveis
72. Falta de clareza nos objetivos
73. Pouca visão de longo prazo
74. Mais emocional que racional
75. “Baús da discórdia” – os erros do passado são sempre usados para justificar a resistência a mudança presente.
76. Brincadeira preferida – fazendo o que o chefe mandar”
77. Gritos e intimidações como estratégias de poder
78. Homens em detrimento de mulheres
79. Respeito a leis e denuncias encaradas como traição em qualquer situação
80. Dissimulação como estratégia de sobrevivência dos trabalhadores.
81. Reservas pessoais em ambientes ameaçadores – corrupção
82. Os fins justificam os meios – “foi por amor”
83. Filhos devem sempre obedecer aos pais em qualquer circunstancia – moral
84. Filhos devem sempre defender os pais em qualquer circunstancia – ética
85. Família é sempre um ambiente benéfico por isso empresas devem ter identidade familiar.
86. Sem a família fica-se em constante perigo – se aqui está ruim lá fora está pior.
87. Desobediência á regras arbitrárias é traição – silêncios e falta de participação são resultados.
88. Arbitrariedades são constantes e perdas de pessoal melhor preparado também.
89. Medo impedindo mudança
90. Jogando fora as criações
91. Abusos de todo tipo
92. Os “bodes expiatórios” aparecem como os que atrapalham o bem estar da empresa.
93. DINHEIRO NOS BAUS E POUPANÇAS AO INVÉS DE REINVESTIR NO PROJETO
94. NEGAÇÃO, PROJEÇÃO, RACIONALIZAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO SÃO PRINCIPAIS MECANISMOS DE DEFESA
95. Transferência de responsabilidades mediante sentimento de ameaça
96. Confusão entre autoritarismo (coerção) e autoridade (mérito)
97. Reconhecimento sem mérito profissional – os melhores são os que não causam “problemas”.
98. Imutabilidade de comportamentos é percebida como positiva – “falano é confiável por que é sempre o mesmo”.
99. Lavar roupa suja em segredo – os problemas são sempre encarados como individuais e nunca trabalhados como sistêmicos.
100. Empresa não é família – família não é profissional e nem se qualifica, família atua no ensaio e erro – o tempo apaga os erros ou os disfarça. Empresa não tem esse tempo.
A empresa não tem que ser igual a família, ela deve profissionalizar-se, abrir-se para novos diálogos, permitir a critica, comunicar-se claramente, criar estratégias de desenvolvimento que sejam aceitos como comuns aos membros do grupo e com sentido para estes.

terça-feira, janeiro 17, 2012

SOBRE OS BBBs e os Brasileiros Pocotós - os custos da falta de objetivo para o dinheito ganho

Uma transcrição de artigo que, penso, mantém-se atual
“ O jumento e o cavalinho
eles nunca andam só
quando sai pra passear
levam a égua Pocotó
Pocotó, pocotó, pocotó
Minha egüinha Pocotó...”

Luciano Pires, Diretor de Comunicação da Dana Corporation, é autor de um ótimo livro, do qual emprestei o título deste editorial, "Brasileiros Pocotós - Reflexões sobre a mediocridade que assola o Brasil" (Ed. Panda Books). Em sua contra-capa, ele escreve o seguinte: "Você liga a televisão e não se conforma com o baixo nível da programação? Abre o jornal e só encontra notícias superficiais e sensacionalistas? Liga rádio e parece estar ouvindo sempre a mesma música? Ruim? Chama um 'profissional' para fazer um conserto em sua casa e o resultado é um desastre? No trabalho, sente a solidão de não ter interlocutores? As conversas são rasas, os temas superficiais? Vê seus filhos decorando a mesma tabela periódica que você decorou anos atrás? Você tem a sensação
de que o Brasil está ficando burro? Pois eu, sim! Daí este livro". Muito bem. Foi disso que lembrei quando, dia desses, um amigo me encaminhou um texto de autoria de Roberto Reccinella , que dizia: "Na terça-feira, dia 22/02, a Rede Globo recebeu 29 milhões ligações do povo brasileiro votando em algum candidato para ser eliminado do Big Brother. Vamos colocar o preço da ligação do 0300 a R$ 0,30. Então, teremos R$ 8.700.000,00. Isso mesmo! Oito milhões e setecentos mil reais que o povo brasileiro gastou só nesse paredão. Suponhamos que a Rede Globo tenha feito um contrato 'fifty to fifty' com a operadora do 0300, ou seja, ela embolsou R$ 4.350.000,00. Repito, somente em um único paredão...". Alguém poderia ficar indignado com a Rede Globo e a operadora de telefonia ao saber que as classes menos letradas e abastadas da sociedade, que ganham mal e trabalham o ano inteiro, ajudam a pagar o prêmio do vencedor e, claro, as contas dessas empresas. Mas o "x" da questão, caro(a) leitor(a), não é esse. É saber que paga-se para obter um entretenimento vazio, que em nada colabora para a formação e o conhecimento de quem dela desfruta; mostra só a ignorância da população, além da falta de cultura e até vocabulário básico dos participantes e, conseqüentemente, daqueles que só bebem nessa fonte. Certa está a Rede Globo. O programa BBB dura cerca de três meses. Ou seja, o sábio público tem ainda várias chances de gastar quanto dinheiro quiser com as votações. Aliás, algo muito natural para quem gasta mais de oito milhões numa só noite! Coisa de país rico como o nosso, claro. Nem o Unicef, quando faz o programa Criança Esperança, com um forte cunho social, arrecada tanto dinheiro. Vai ver deveriam bolar um "BBB Unicef". Mas tenho dúvidas se daria audiência. Prova disso é que na Inglaterra pensou-se em fazer um Big Brother só com gente inteligente. O projeto morreu na fase inicial, de testes de audiência. A razão? O nível das conversas diárias foi considerado muito alto, ou seja, o público não se interessaria. Programas como BBB existem no mundo inteiro, mas explodiram em terras tupiniquins. Um país onde o cidadão vota para eliminar um bobão (ou uma bobona) qualquer, mas não lembra em quem votou na última eleição. Que simplesmente anula seu voto por não acreditar mais nos políticos deste País, mas que gasta seu escasso salário num programa que acredita de extrema utilidade para o seu desenvolvimento pessoal. Que vota numa legenda política sem jamais ter lido o programa do partido, mas que não perde um capítulo sequer do BBB para estar bem informado na hora de PAGAR pelo seu voto. Que eleitor é esse? Depois não adianta dizer que político é ladrão, corrupto, safado, etc. Quem os colocou lá? Claro, o mesmo eleitor do BBB. Aí, agüente a vitória de um Severino não-sei-das-quantas para Presidente da Câmara dos Deputados e a cara de pau, digo, a grande idéia dele de colocar em votação um aumento salarial absurdo a ser pago pelo contribuinte. Mas o contribuinte não deve ligar mesmo, ele tem condições financeiras de juntar R$ 8 milhões em uma única noite para se divertir (?!?!), ao invés de comprar um livro de literatura, filosofia ou de qualquer assunto relevante para melhorar a articulação e a auto-crítica...Há uma frase de Robert Savage que diz: "Há mais pessoas dispostas a pagar para se entreter do que para serem educadas". E é verdade, a Globo sabe disso! Quantas pessoas você conhece que desistiram de cursar uma faculdade porque acharam o preço muito alto? Pergunte a uma criança quantos nomes de bichinhos de desenhos japoneses e funções das personagens de jogos de computador ela conhece. Você vai perder a conta. Mas se perguntar quem foi Monteiro Lobato, como se escreve "exceção" ou quanto é seis vezes três, ela vai titubear. Para piorar ainda mais o cenário dos
próximos anos, cito um ditado chinês: "Se você quer educar uma criança, comece pelos avós dela". Voltando ao parágrafo original desse editorial, o autor do livro comenta num dos primeiros capítulos o surgimento, há cerca de quarenta anos, do MNMB (Movimento Nacional pela Mediocrização do Brasil). Pois é, nem Stanislaw Ponte Preta e seu Febeapá (Festival de Besteira que Assola o País) imaginariam que a coisa iria piorar. E piorou. Sabe por quê? Porque o brasileiro quer. Chega de buscar explicações sociais, coloniais, educacionais. Chega de culpar a elite, os políticos, o Congresso. Olhemos para o nosso próprio umbigo, ou o do Brasil. Chega de procurar desculpas quando a resposta está em nós mesmos. A Rede Globo sabe muito bem disso, os autores das músicas Egüinha Pocotó, O Bonde do Tigrão e assemelhadas sabem muito bem disso; o Gugu e o Faustão também; os gurus e xamãs da auto-ajuda idem. Não é maldade nem desabafo não, é constatação.
Júlio Clebsch
Fonte: JORNAL VIRTUAL PROFISSÃO MESTRE, 2005